sexta-feira, 27 de julho de 2007

Rodrigo Giordani (jornalista) Jornal do Brasil

ANOS LOUCOS EM BELO HORIZONTE

“Um esqueleto no armário”, de André Rubião, mergulha no fascinante, mas ao mesmo tempo perverso e abjeto triangulo sexo, drogas e rock ‘n’ roll – mais no segundo que nos outros dois. O ano é 1967 e o personagem principal, então com apenas 11 anos de idade. Claro que esta maioridade precoce se acelera depois de uma experiência traumática, daquelas que marcam a vida de qualquer criança. Mas, afinal, é a historia do sonho e do pesadelo de uma geração, mais do que outra tragédia de um viciado que André, sobrinho-neto do jornalista e escritor Murilo Rubião, esmiúça em 139 páginas.

Lançado em 2001, graças à lei mineira de incentivo à cultura, o livro não é definitivamente uma ficção. “Diria que no máximo 20% do que eu conto não ocorreram de fato”, diz o jovem escritor de 25 anos. A historia do “insubmisso H”, o protagonista, com lembra Humberto Werneck na orelha, é baseada em fatos ocorridos com pessoas da convivência próxima de Rubião e, mesmo que não fosse, poderia ser a história de vida de muitos garotos dos anos 60 e 70.

Personagem real, H, aliás, como quase todos os citados, com pseudônimo ou nomes trocados, alcança o éden, o purgatório e o inferno. Nesta longa e às vezes tenebrosa viagem, as drogas, das mais leves às mais pesadas, como os ácidos e a cocaína, são o fio condutor que leva H direto para o abismo. Paralelamente à história de H, André Rubião conta a história de Belo Horizonte, cenário das primeiras descobertas do protagonista. Esta é, aliás, uma característica comum aos chamados “romances de geração”, se bem que o livro de Rubião não o seja: situar no espaço além de situar no tempo.

É da praça ABC, das ruas da Savassi, que H e seus amigos acompanham as novidades do mundo no final dos 60. E que novidades: LSD, contracultura de San Francisco, movimento hippie, Easy rider, Janis Joplin, moda Glam. E é na praça ABC que eles vivem, que experimentam ácidos, o visual psicodélico com suas cores, roupas e penteados extravagantes. Um esqueleto poderia ser visto, neste sentido, como uma continuação de O encontro marcado, de Fernando Sabino, e Hilda Furacão, de Roberto Drummond. Com os três títulos, tem-se uma verdadeira trilogia dos anos loucos da capital mineira.

Além de não se prender somente aos fatos, Um esqueleto usa e abusa, como observa o autor, da linguagem cinematográfica. “Me inspirei em Os bons companheiros, de Scorcese”, diz Rubião.

Um esqueleto no armário deve agradar também às novas gerações, que não viveram a maioria dos fatos ali descritos e conhecem alguns personagens apenas de forma superficial.

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