sexta-feira, 27 de julho de 2007

Alberto Vilas (jornalista e escritor) Globo.com



UM ESQUELETO NO ARMÁRIO

A nova Livraria da Travessa, na Rua Visconde de Pirajá, em Ipanema, virou um vício. Todo santo sábado, faça sol ou faça chuva, quando estou na Cidade Maravilhosa, lá estou eu plantado esperando que ela se abra. Bastam dois passos para sentir aquele perfume dos livros novos. Aquilo ali é um mundo maravilhoso. Toda vez que vou lá me sinto um pouco exilado desse mundo violento aqui de fora. São milhares de livros e discos e um café, como dizem os gourmets, honestíssimo.

Num desses sábados, entrei na Livraria da Travessa em busca de novidades. Não queria coisas do tipo Luna Clara e Apolo Nove, de Adriana Falcão. Um livro lindo que reservei para ler em doses homeopáticas com as crianças, de noite na cama. Depois de passar os olhos pelos Ritos de Passagem, de Willian Golding, pelo Bando de Kelly, de Peter Carey e pela Colméia, de Camilo José Cela, parei os olhos sobre uma curiosidade: Um Esqueleto no Armário, de André Rubião. O que me chamou a atenção? O nome do livro? Sim. Adoro nome de livros. Outro dia descobri um que se chama Quando o bombeiro chegou o incêndio já havia terminado. Mas o que me chamou mesmo a atenção foi o sobrenome do André. Pensei com meus botões. Será irmão do Murilo? Filho? Neto?

Seria o André o verdadeiro ex-mágico? Ou o pirotécnico Zacarias? Do Murilo gosto desde os tempos do saudoso Suplemento Literário de Minas Gerais. Será que vou gostar do tal André? Me arvorei a devorar a orelha do livro ainda na Livraria. Assinada por Humberto Werneck, tinha ali a primeira pista. O tal Rubião certamente era mineiro como nós. Então descobri no sempre delicioso texto do Humberto que o tal Rubião era sobrinho-neto de Murilo. Não tinha erro, o livro estava no papo.

Mesmo sem ter lido nada sobre a obra, resolvi levá-la para casa. Li de um gole só. Vou muito pouco a Belo Horizonte, o que lamento todos os dias. Desde que fugi de lá no início dos anos 70, sinto saudades. E mato essa saudade lendo suas histórias, reais e irreais. Gostei de encontrar no texto do André referências tão longe e tão frescas da minha cidade. A turma da Praça ABC, por exemplo, há décadas não passava pela minha cabeça.

Não vou contar o início, o fim, nem o meio do livro. Há muito tempo não lia um texto tão enxuto e saboroso. Quando li na orelha do Esqueleto no Armário que André Rubião tinha apenas 24 anos, fiquei curioso em saber onde foi encontrar tantas referências dos anos hippie, por exemplo, para escrever o seu livro. Como foi possível escrever um livro com tanto sexo, drogas e rock ‘n’ roll com tão pouca idade. E com um texto tão brilhante. Durante dois dias ele ficou na minha cabeça. Foi aí então que resolvi disparar um e-mail rumo ao novo escritor para saber, afinal, quem era ele. Fui assim, curto e grosso mesmo: quem é você? A resposta foi quase imediata. Imaginei que viera de Belo Horizonte. “Você quer dez linhas tipo currículo ou dez linhas existenciais?” Preferi as existenciais e a resposta chegou alguns dias depois, lá de uma cidadezinha do interior da França, onde o André está fazendo mestrado em Filosofia do Direito. Como e-mails enganam a gente, não é mesmo? Sem envelope, selo ou carimbo, a gente nunca sabe de onde vem.

O sobrinho-neto de Murilo Rubião me mandou um longo texto que vou resumir aqui em dez linhas.

1 - Uma coisa interessante na minha vida é que nunca gostei de ler.
2 - Foi somente aos 18 anos, depois de uma temporada nos EUA, que andei me embriagando de Wilde, Ginsberg, Baudelaire, Rimbaud...
3 - A primeira vez que li Rimbaud não entendi nada.
4 - Eu adoro a idéia do meu tio aparecendo na Terra.
5 - A minha primeira influência foi o filme Os Bons Companheiros, de Scorcese.
6 - Queria ter vivido aquela loucura dos anos 70.
7 - Sou o começo, o fim, o nada... como dizia Raul Seixas.
8 - A literatura passou a ser uma fobia.
9 - Descobri que além de Morrison, Joplin, Hendrix, Jones, havia outras overdoses no ar.
10 - Sou um joven cheio de idéias, de vontade, de esperança.

Senhoras e senhores, este é o novo Rubião da praça. Muito prazer!

Um comentário:

Unknown disse...

Estou procurando o nome de um livro de Alberto Vilas que foi comenado no programa mais voce em 08/10/2009